Há mais de cinco meses a brasileira Rosana Rodrigues evita sair de casa, na pequena cidade belga de Rummen, com a esperança de que seu filho volte de surpresa da guerra na Síria, para onde viajou a fim de se unir aos rebeldes.
Com 19 anos, Brian De Mulder, belga como o pai, é um dos entre 80 e 100 jovens dessa nacionalidade que as autoridades locais estimam ter escolhido esse destino depois da conversão ao islamismo e uma rápida radicalização.
O garoto, que vivia com a mãe, o padrasto e a irmã mais nova em uma ampla casa de dois andares, é descrito como um jovem de educação católica, jogador de futebol, bom aluno e filho obediente, que nunca teve problemas com drogas ou com a polícia.
Ele decidiu se converter ao islamismo em 2010, quando foi dispensado por seu treinador e, abatido, buscou conforto espiritual na religião.
Radicalização
Segundo Rosana, o filho começou a frequentar reuniões do grupo radical Sharia4Belgium, perseguido pela polícia federal do país por incitação ao ódio e por pregar a adoção da Sharia, a lei islâmica, na Bélgica.
Na noite de 22 de janeiro ele se deitou ao lado da irmã Aicha, 12 anos, e se despediu com uma frase sussurrada ao ouvido enquanto ela dormia: "Esta é a última vez que você vai me ver".
Desde então, a família só teve notícias dele em três breves mensagens pelo Facebook, respondendo a insistentes tentativas de contato de sua irmã mais velha, Bruna, de 25 anos. Em nenhuma ele revelou onde ele estava.
A polícia federal confirmou à família que sua conta de e-mail havia sido acessada de Damasco, a capital síria, antes de ficar inativa, e mostrou um vídeo de um grupo de combatentes entre os quais há um rapaz que poderia ser Brian.
Lembrando os últimos meses de convivência com o filho, Rosana, que vive há 23 anos na Bélgica, contou sobre os sinais que então ignorou de que a viagem estava prestes a se concretizar.
Apesar do esforço da mãe para impedi-lo, a radicalização foi rápida. Em dois anos Brian abandonou a escola, trocou as roupas ocidentais por trajes típicos muçulmanos, cogitou abandonar a família se os demais membros não se convertessem ao Islã e passou a falar em ir para a Síria prestar ajuda humanitária.
"Ele passava as noites em claro, só comia aveia, passava dias sem tomar banho. Em dezembro, comprou umas roupas do exército e se circuncidou (prática muçulmana). Agora eu fico pensando: tudo devia fazer parte dos preparativos para ir para a guerra. E eu não me dei conta", relatou, chorando.
Ela mantém a calma graças aos antidepressivos receitados pelo psiquiatra que vê uma vez por semana, mas não consegue conter um ódio generalizado contra toda a comunidade muçulmana.
Busca
Diante da falta de resposta das autoridades belgas, Rosana sonha com ir à Síria procurar Brian pessoalmente.
"Eu poderia morrer, mas não voltaria sem meu filho", afirma.
Foi o que fez Dimitri Bontinck, cujo filho, Jejoen, que aparece em vídeos de Sharia4Belgium ao lado de Brian, partiu para o país em guerra no início de março.
Jejoen, 18 anos, vivia com o pai belga, a mãe nigeriana e a irmã mais nova em Antuérpia, segunda maior cidade da Bélgica, em um ambiente familiar tranquilo e católico, sem problemas financeiros.
Seu processo de transformação foi similar ao de Brian: uma grande decepção, no seu caso amorosa, a busca de conforto no Islã, o doutrinamento pelo grupo radical, a mudança de aparência e de comportamento visível em um período de dois anos, até o desejo manifesto de "ajudar os irmãos muçulmanos da Síria".
"Ele viajou para o Cairo (Egito) dizendo que iria estudar sobre islamismo em uma universidade, financiado pelos 'irmãos muçulmanos'. Trocamos algumas mensagens por telefone e e-mail, mas ele nunca me respondeu qual era o nome da universidade", conta Dimitri.
Duas semanas depois, quando o filho deixou de dar sinal de vida, o pai deduziu que ele se unira ao grupo de jovens belgas na Síria e foi até o país investigar seu paradeiro, com a ajuda de uma equipe de televisão árabe, mas voltou para casa sozinho.
Assim como Rosana, ele e outros pais na mesma situação se queixam do descaso das autoridades belgas que, segundo eles, ignoraram suas denúncias contra a Sharia4Belgium quando os filhos começaram a frequentar o grupo, assim como suas queixas por desaparecimento quando os rapazes deixaram de dar notícias.
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