terça-feira, 15 de março de 2011

Presidente Dilma deu pistas de que não seguiria política externa em relação ao Irã

Ao dar pistas de que não seguiria a linha equivocada da política externa do governo anterior de apoiar ditaduras e crimes contra os direitos humanos, como o Irã, a presidente Dilma Rousseff provocou protestos na República Islâmica. Após anos de ótimas relações entre os dois países, o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, se mostrou incomodado com as críticas feitas por Dilma, num primeiro sinal de mal-estar com o Brasil.

De acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, um telegrama diplomático datado de segunda-feira contém o relato de diplomatas brasileiros em Teerã sobre essa insatisfação. Eles relatam que um assessor especial de Ahmadinejad telefonou para o embaixador brasileiro no Irã, Antonio Salgado, para se queixar. Ele teria transmitido o incômodo de Teerã com as repetidas referências à situação dos direitos humanos no Irã, feitas por autoridades brasileiras. Segundo o telegrama, o assessor iraniano pediu ao embaixador que informasse o Itamaraty sobre o desconforto.

Por oito anos, o Brasil adotou uma posição de cumplicidade em relação às violações aos Direitos Humanos no Irã. Depois de tomar posse, porém, Dilma criticou o comportamento do Brasil na ONU, ao abster-se de votar uma condenação às violações de direitos humanos no Irã. "Não concordo com o modo como o Brasil votou. Não é a minha posição", afirmou. "Ficaria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não me manifestar contra o apedrejamento", disse ela, referindo-se à condenação da iraniana Sakineh Ashtiani.

Em entrevista publicada em VEJA desta semana, o chanceler Antonio Patriota foi na mesma linha. "A questão da ameaça de apedrejamento da iraniana obviamente vai contra tudo o que nós representamos", disse Patriota. "Acho que vai haver uma reflexão interna sobre essa questão dos direitos humanos." Preocupado com as declarações de Dilma, o governo iraniano se esforça para manter o Brasil em seu rol de aliados. O recente protesto parece ser a primeira consequência formal da mudança de direção da política externa brasileira em relação ao Irã.

Cumplicidade - O governo Lula foi marcado por uma posição de não intervenção nas questões que envolvem o país. Ele comparou os tumultos que se seguiram à eleição iraniana em 2009, quando centenas de iranianos foram detidos e agredidos por agentes do regime, a uma "briga de torcida" - não passaram de "uma coisa entre flamenguistas e vascaínos", disse Lula.

Quando questionado sobre a condenação de Sakineh, Lula afirmou: "É preciso tomar muito cuidado porque as pessoas têm leis e regras. Se começarem a desobedecer às leis deles para atender aos pedidos dos presidentes, daqui a pouco há uma avacalhação." O Itamaraty tradicionalmente se abstinha nas votações no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Fonte: Veja Brasil