terça-feira, 7 de junho de 2011

Revolta no mundo árabe estimula democracia no Irã, diz Shirin Ebadi - Só que Dilma não a recebeu!

No Brasil para pedir ajuda à presidenta Dilma Rousseff para ajudar na libertação de advogados iranianos que defendem opositores, a jurista iraniana Shirin Ebadi, laureada com o Nobel da Paz em 2003, acredita que as revoltas nos países árabes ajudam a oposição iraniana. “A democracia nos países árabes estimula a democracia no Irã”, disse nesta terça-feira na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo.

A jurista iraniana, no entanto, alertou que a queda de um governo ditatorial não é o suficiente para trazer democracia de fato aos países. “Espero que os ditadores nos países árabes se vão, mas a saída de um ditador não é suficiente. Tem de haver democracia depois. Que não seja como o Irã. Há 32 anos (na Revolução Islâmica) expulsamos um ditador, o xá que obedecia aos EUA, mas a democracia não chegou ao país”, disse Nascida no Irã em 1947, Ebadi tornou-se em 1969 a primeira mulher iraniana a exercer a magistratura e também a primeira a presidir um tribunal legislativo, em 1975. No exílio na Grã Bretanha desde 2005, Ebadi disse que atualmente o Irã é palco de três crises.

Uma diz respeito ao “povo contra o governo em geral”, que levou à prisão um grande número de estudantes, jornalistas, advogados e defensores de direitos humanos. Em segundo, apontou a existência de políticos de tendência reformista em conflito com conservadores e, em terceiro, figuras políticas de mesma tendência brigando entre si dentro do governo.

“Desde o mês passado, o presidente Mahmud Ahmadinejad está em conflito com o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Esse conflito teve início com a demissão do ministro da Informação pelo presidente, mas está começando a se mostrar de outras maneiras, e hoje alguns aliados do presidente estão presos”, disse. Segundo ela, o que poderia acontecer de melhor ao Irã seriam eleições livres sob a supervisão da Organização das Nações Unidas.

Além disso, Ebadi quer ajuda para libertar dez advogados iranianos atualmente presos, em especial Nasrin Soutoudeh. “Vocês podem entender que em um país onde os advogados são presos e tratados assim, há muita limitação para o povo e os cidadãos comuns”, disse antes de pedir a presentes na OAB-SP que enviem cartas à Embaixada do Irã em Brasília para pressionar o governo.

A iraniana não quis comentar a recusa de Dilma em recebê-la para uma reunião Brasília, mas não deixou claro se ainda se encontrará com o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia. “De qualquer jeito, enviarei uma carta de agradecimento. Só vim ver a presidente Dilma. Mas não vou mais.”

Além da repressão contra ativistas de direitos humanos, jornalistas, opositores políticos e advogados, Ebadi alertou para a execução de menores de 18 anos no Irã - onde a idade penal para meninas é de 9 anos, enquanto para meninos é 15 anos –, e de iranianas que são vistas como cidadãs de segunda categoria.

“De acordo com a lei, a compensação financeira a uma mulher pela morte de alguém da família é metade da quantia dada a um homem. No tribunal, um homem como testemunha equivale a duas mulheres. Além disso, um homem pode ter até quatro esposas e se divorciar sem justificativa quando quiser, enquanto para uma mulher o divórcio é muito mais difícil”, disse.

Ebadi chegou ao Brasil nesta terça-feira. Além da visita à OAB-SP, ela passará por Brasília, onde terá audiência na Câmara dos Deputados, e Porto Alegre, para um almoço com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Ela também participa do seminário internacional do Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre, no dia 13, e em São Paulo, no dia 14.

Fonte:iG São Paulo