A presidente Dilma Rousseff acaba de realizar uma questionável visita a Cuba, a qual ocorreu num momento em que o Itamaraty deu acolhida ao visto para entrar no Brasil à jornalista e dissidente cubana Yoani Sánchez. Um fato que não deixou de ser um indireto apoio brasileiro a uma notória crítica do regime cubano, deixando a impressão de que a questão dos direitos humanos estaria na agenda da presidente em Cuba. Doce ilusão. Dilma acabou fazendo uma salada de fruta dos direitos humanos pelo mundo, misturando o Brasil e condenando explicitamente os Estados Unidos pelo caso de Guantánamo. Inquestionavelmente, Guantánamo é uma excrescência, mas não se pode falar naquela base estando em Cuba e não lembrar que, poucos dias antes, um dissidente do regime, Wilman Villar, morreu em greve de fome. Mas Dilma pelo menos calou. Lula, em ocasião anterior, chegou ao ridículo de comparar os presos políticos de Cuba aos presos comuns do Brasil.
Mas, Dilma não foi a Cuba para tratar de direitos humanos. Foi tratar fundamentalmente de negócios. Para ajudar na recuperação dos cubanos e, quem sabe, para as empresas brasileiras a terem lucro. E como disse a jornalista norte-americana Julia Sweig, “o diálogo político que o ministro Patriota e a presidente Dilma realizaram em Cuba, além da geração de empregos e os primeiros passos em direção ao aumento do comércio e dos investimentos, tem muito mais chances de reforçar transformações positivas do que se poderia conseguir brincando de favorito com este ou aquele dissidente”.
Na realidade, o Brasil está colocando muito dinheiro em Cuba. O porto de Mariel, que tem a construção pela Odebrecht, recebe 80% de financiamento pelo BNDES, na ordem de 683 milhões de dólares. O porto será o equivalente em Cuba às zonas econômicas especiais criadas pela China para atrair capital estrangeiro. Iniciativa adotada há cerca de 30 anos, no início das reformas econômicas comandadas por Deng Xiao-ping. O porto é visto como uma plataforma para as empresas brasileiras exportarem o Caribe, América Central e, quem sabe, até para os Estados Unidos quando acabar o embargo econômico. Aliás, é ridícula a posição daqueles que atribuem os males da ilha ao embargo americano. Até os alimentos consumidos na ilha vêm dos Estados Unidos.
Mas, o governo brasileiro também vai fornecer créditos para auxiliar no desenvolvimento da agricultura familiar na ilha, com a aquisição de maquinários e implementos agrícolas, em valores que podem chegar a 200 milhões de dólares. Enfim, a visita de Dilma foi a legítima visita de uma “mãe brasileira”. Os financiamentos chegam perto de um bilhão de dólares. Tudo dentro do contexto de ajudar o país que foi o símbolo da esquerda na América Latina, mas que hoje está quebrado. Aliás, é preciso dizer que a revolução cubana só se sustentou financeiramente pela ajuda da então União Soviética. Quando esta faliu, Cuba quase faliu junto. Foi salva por uma aliança com empresas européias para explorar o turismo na ilha, o que deu uma sobrevida. E a crise foi amenizada pelo “companheiro” Hugo Chávez, que passou a fornecer o petróleo em troca da ida de médicos cubanos para a Venezuela. Bem, e agora é a esquerda brasileira, suportada pelo alto índice de crescimento de nosso país, que sai em socorro da ilha. Sem fazer nada em prol da mudança de regime por lá. Até porque, o sonho desta nossa esquerda era ter por aqui o mesmo sistema de um só partido. Pois, como disso o “companheiro” Raúl Castro, qualquer outro que não seja o PC é “partido do imperialismo”.
Então, Dilma foi alimentar o romantismo da esquerda latina que tem em Cuba o seu referencial. Sem se importar se o sistema é viável ou não. E aí a pergunta que fica é se Cuba terá condições de pagar todo este dinheiro que está recebendo. Dinheiro, diga-se de passagem, do povo brasileiro.
Fonte: Jurandir Soares