Que graça!
O Movimento Passe Livre, tratado por setores da imprensa como os novos utopistas e um celeiro de pensadores, agora veio a público para anunciar que está fora de novas manifestações em São Paulo porque elas teriam sido apropriadas pelos conservadores. Essa gente que diz não ter líderes já emitiu, que eu me lembre, a sua segunda “nota oficial”. É a primeira vez na história do mundo mundial que uma “organização horizontal” emite nota. É patético! O texto é de impressionante má-fé por tudo o que diz e por aquilo que omite. Leiam
“O Movimento Passe Livre (MPL) foi às ruas contra o aumento da tarifa. A manifestação de hoje faz parte dessa luta: além da comemoração da vitória popular da revogação, reafirmamos que lutar não é crime e demonstramos apoio às mobilizações de outras cidades. Contudo, no ato de hoje presenciamos episódios isolados e lamentáveis de violência contra a participação de diversos grupos.
O MPL luta por um transporte verdadeiramente público, que sirva às necessidades da população e não ao lucro dos empresários. Assim, nos colocamos ao lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e não para o lucro dos poucos que estão em cima. Essa é uma defesa histórica das organizações de esquerda, e é dessa história que o MPL faz parte e é fruto.
O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação de hoje, da mesma maneira que repudiamos a violência policial. Desde os primeiros protestos, essas organizações tomaram parte na mobilização. Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos juntos.
Toda força para quem luta por uma vida sem catracas”
Voltei
Mais uma vez, o MPL reafirma seu caráter e movimento de esquerda, no que venho insistindo aqui desde o primeiro dia. É permitido ser de esquerda no Brasil. O que deveria ser moral e eticamente vetado é a imprensa, setores dela ao menos, tentar negar esse caráter, esforçando-se para emprestar a essa gente uma agenda que não é e nunca foi sua.
O MPL está chateadinho porque os petistas e outros partidos de esquerda foram banidos das manifestações; tiveram de sair de lá com o rabo entre as pernas. ATENÇÃO! Eu também não apoio a perseguição a partidos políticos e acho que nada de bom sai dessa prática, mesmo que seja contra essa gente cujo ideário desprezo. Só que há um dado importante: o que me causa horror nessa onda toda — e estou a cada dia mais convicto disto — é a violência e a permanente violação da Constituição.
Releiam a nota do Passe Livre. Os valentes condenam a suposta violência contra seus amiguinhos de esquerda, condenam a suposta violência policial, mas NÃO DIZEM UMA VÍRGULA CONTRA OS DEPREDADORES E OS SAQUEADORES.
Alo, mistificadores! É mentira que os atos de depredação e barbárie estavam fora do script do Passe Livre. Não estou dizendo que foram PRATICADOS por eles — que têm compleição física para isso têm. Estou AFIRMANDO QUE A VIOLÊNCIA ERA UM DADO DA SUA EQUAÇÃO. Ou não foi ela que empurrou os prefeitos para decisões de emergência, que estupram as contas públicas.
Eu sei o que faço com a minha ignorância — procuro saná-la lendo, estudando, refletindo. Cada um faça o que quiser com a sua própria. O MPL se considera um movimento revolucionário — já falo quem são seus interlocutores. Se os jornalistas — com as exceções de sempre — lessem um pouco mais e dessem um pouco menos de atenção à fofocaiada das redes sociais, saberiam que a violência, o terror, a desordem, a confusão generalizada, a desestruturação de serviços públicos etc., tudo isso é uma etapa da luta revolucionária.
“Ah, o Reinaldo acha que eles iriam fazer uma revolução. É um paranoico!” Uma ova! Eu não acho que eles iriam fazer revolução, não! Eu estou sustentando que eles consideram que a violência lhes é útil porque existe teoria a respeito, que trabalha com esse dado. Eles só estão decididos a tornar a vidas nas cidades um inferno para conquistar posições de poder na miríade de partidos de esquerda.
Rafael Siqueira, o tiozinho com cara que caiu do caminhão que voltava com a tralha de Woodstock, TRINTA E OITO ANOS, concedeu entrevista. Leio na Folha o que segue em vermelho:
Durante o ato, o MPL conversou com alguns grupos de esquerda sobre a presença de “neofascistas” agredindo pessoas na rua. “É inconcebível essa onda oportunista da direita de tomar os atos para si.”
Segundo o movimento, desde o ato de terça-feira, grupos de direita (não se sabe se organizados ou não) levaram às ruas pautas que não representam o MPL, o que gerou preocupação, pois “distorce a iniciativa”.
“O que preocupa não é a participação das pessoas na rua, mas pessoas claramente contra as organizações sociais e que nunca participaram de manifestações, começarem agora a usar os atos para promover a barbárie.”
A decisão de voltar ou não às ruas será tomada após conversa do MPL com grupos aliados –MPST (Movimento Popular dos Sem Terra), MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), Ocupação Mauá e Periferia Ativa–, que deve acontecer até a semana que vem.
“Ainda não sabemos que estratégia tomar, vai ser uma conversa longa e franca entre todas as organizações no campo da esquerda pra que a gente não fique rachado entre a gente, precisamos manter a união, que é o mais importante.”
Retomo
Eis aí. Eu disse desde o começo que o MPL havia trazido para as cidades, com o apoio bucéfalo da imprensa, os métodos que o MST usava no campo. Podem procurar os textos. Estão em arquivo.
O MPL está fora? Como já disse aqui, então eu estou pensando em aderir ao movimento de protesto. Só que eu teria algumas exigências para tanto, que, acredito, não serão acolhidas:
1) que os que querem mudar o Brasil (e até o mundo) não destruam a rotina das cidades. Peçam autorização ao Poder Público para se manifestar numa grande praça. É fascista impor a participação a quem não quer participar;
2) pela volta dos R$ 3,20. É um escândalo que Prefeitura e governo tenham de cortar investimentos por conta de uma benefício que é irrelevante para milhões, mas que é relevantíssimo para o futuro.
Que bom que esse MPL nunca me enganou. Identifico essa gente de longe, pelo cheiro.
Por Reinaldo Azevedo