domingo, 16 de janeiro de 2011

Testemunha do trabalho de Deus durante seminário de cura e aconselhamento

IRAQUE (17º) - “Percebi a mulher enquanto ela caminhava para a sala, olhando todos a sua volta, examinando tudo. Era como se não tivesse certeza se deveria estar lá. Caminhou após mim, enquanto eu conversava com alguém, e deixou suas coisas numa cadeira na frente da sala onde permaneceu.

Enquanto me aproximava, ela caminhou em minha direção e disse, “Estou vindo aqui somente por um dia, hoje. Tudo bem pra você se eu somente participar uma vez?” Respondi que seria ótimo se pudesse participar por mais de um dia, afinal, éramos nós os seus convidados e este era o seu tempo de treinamento.

Pensei por um momento que isso era o que a traria de volta? Talvez, ela trabalhasse e só poderia ter uma tarde livre. Quem sabe não tinha filhos e este foi o único dia que encontrou alguém para cuidar deles. Seria talvez uma dona de casa e precisava se importar com sua casa ou alguém nela, que precisasse de atenção.

Me continve para não perguntar seu nome. Ela parecia ter uns 40 anos - aqui as pessoas parecem ser mais velhas do que realmente são já que aviolência constante e o medo te fazem envelhecer. Quem era ela? De onde veio? Ela é uma filha? Irmã? Esposa? Mãe?

Quem sabe quais mentiras cada um esconde, cada expressão esconde? Quem sabe o que acontece com esta e tantas outras mulheres que lutam a batalha da vida nesta área? Quem sabe onde ela estava? O que trouxe uma mulher a esta pequena vila que agora é seu lar?

Se ela fosse extremamente afortunada, poderia ter fugido da cidade natal antes que a violência e as ameaças fossem o real motivo de sua saída. Mas se ela não conseguiu sair antes, e as experiências que tiverapodiam ser numerosas; se suas marcas e feridas causadas pela sua vida fossem tão marcantes e inesquecíveis. Teríamos tempo para ouvir sua história? Só um dia seria suficiente para conseguir conhecê-la?

Após os cumprimentos, quando todos se instalaram, começamos com uma leitura e história da Bíblia. Enquanto o dia progredia, usamos o máximo do material que conseguimos. Eles tinham perguntas interessantes e eram tão questionadores que felizmente eu estava impressionado.

Ela parecia aprender o máximo naquele dia. Não fez nenhuma pergunta. Somente sentou e ouviu, nem mesmo fez anotações. No final de nosso horário do dia, ela sorriu para mim enquanto caminhava, como se estivesse dizendo adeus. Olhei para ela por uma fração de segundo.

Olhei para muitas pessoas; ela seria uma das únicas que poderia não ver novamente. Nossas trilhas se cruzaram por um pequeno momento, e eu silenciosamente orei a Deus para abençoando-a. E já esqueci seu nome! Nomes são tão importantes. Eu deveria fazer uma lista para lembrá-los– pensei durante a longa volta à hospederia.

No dia seguinte ela estava lá. Eu sorri quando a vi e disse, “Você voltou! Estou muito feliz em vê-la novamente.” Ela sorriu de volta, mas parecia um pouco tímida, então não fiz mais perguntas. O treinamento começou e novamente ela se sentou muito perto do palestrante e ouvia com grande atenção.

Durante o café ela ficou atrás na sala. Inicialmente, sentou-se longe, mas então mostrou coragem e veio conversar. Me disse que é irmã de um dos participantes que estava no treinamento. “Sou de Mossul”, disse. ”Eu deveria estar casada e ter meus próprios filhos. Mas meu noivo foi brutalmente morto na minha frente em Mossul em 2006. Tudo o que tínhamos dele eram partes de seu corpo. Não tínhamos um cadáver completo. Queria saber quanta dor ele sentiu antes de morrer. Não queria estar aqui, mas depois de ontem, eu sabia que precisava voltar porque este treinamento é pra mim.”

Eu estava um pouco surpreso por ela vir e me contar isto tão francamente. Ela tentou não mostrar emoção enquanto me contava, mas pude ver as manchas de lágrimas– as lágrimas eram parte das cicatrizes que ela suportava. Todavia, as feridas eram mais profundas do que apareciam na superfície.

“Agora nunca mais vou me casar. Nunca me casarei? Você é casado? Quantos anos você tem? Você acha que é muito tarde para se casar? Terei filhos como minhas irmãs?” ela perguntou em desespero.

Disse a ela que não sabia e que não poderia responder as suas perguntas. Disse que Deus sabia e em fé nós esperamos por Suas respostas e em fé nos achegamos a Ele. Disse o que eu tinha certeza: “Deus ainda é Deus, Ele ainda é bom e Ele ainda está perto”. Contudo, enquanto eu falava isso, orava a Deus, implorando que Ele desse esperança a mulher e que levasse sua dor embora. Eu mesmo precisava acreditar que Deus interviria e mudaria esta situação.

No último dia ela estava hesitante de início, mas fez a obra de arte que pedimos ao grupo para fazer. Quando o instrutor perguntou se alguém queria compartilhar seu trabalho com o grupo, ela se levantou na frente de todos, contou que tinha perdido seu noivo e contou sobre a fé em Deus e esperança nEle.

Fiquei muito orgulhoso dela. Uma mulher incrível, que deve saber o quão orgulhoso e honrado Deus está por ela. Como uma mãe sentada na apresentação de escola de seu filho, eu olhava para ela com grande alegria e orgulho já que deu um passo enorme e permaneceu em frente à multidão, superando a timidez. Ela sorriu e seus olhos brilhavam.

Este era um passo em direção a cura? Testemunhamos um milagre? Testemunhamos o trabalho da mão de Deus? Acho que sim. Estas pequenas coisas são mais importantes. Deus escolheu mostrar-se em nosso treinamento e usou este tempo para tocar as vidas daqueles que Ele ama. Estou maravilhado...”.

Tradução: Tatiane Lima
Fonte: Portas Abertas